quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

A FILA DOS HOMENS NUS



Por Clerisvaldo B. Chagas, 08 de janeiro de 2014 - Crônica Nº1118 

Eu sabia sobre todos os combates da Segunda Grande Guerra. As batalhas do Pacífico, do norte da África, dos maquis, nomes de comandantes, armas utilizadas como tanques, aviões, navios, submarinos e as estratégias usadas pelos respectivos comandos. Era um apaixonado pelo tema e gostava de discutir com meus colegas bem informados. Entretanto nunca quis saber de farda de espécie alguma. Foi com surpresa, portanto que recebi a notícia que teria que me apresentar ao tenente do exército em Santana. Os jovens santanenses estavam isento do serviço militar obrigatório, mas fui atender o chamado verde. O tenente era farrista, gostava de falar, discursar difícil e pedir cágados do criatório de meu pai para suas farras que não tinham fim. Mesmo assim não teve consideração nenhuma. Vendo que eu passara do prazo de me apresentar, apenas poucos dias, nem quis saber. Com sua cara falsa e de pau, lascou um carimbo no documento que eu iria portar com a palavra “REFRATÁRIO”. 

 E como eu passara a ser um peste refratário, teria que me apresentar em Maceió no quartel do 20º BC para exame de saúde e servir o exército ou não. Exame superficial preliminar, outra carimbada, dessa vez nas costas com a letra “B” e uma ordem enjoada àquela multidão: “Todo mundo nu e na fila”. Antes de ser constrangedor, era uma maneira de humilhar os futuros recrutas e os estudantes civis. Sem alternativa fui completar a fila dos cabras pelados. Não havia como esconder nada. Com u’a mão se cobria a bunda, com a outra se escondia o pênis. Mas, essa estratégia não funcionava, compadre. Pense numa fila de homens pelados. Uns ficavam sérios e outros, não podendo escapar à humilhação, tornavam-se engraçados apontando, bundas, pênis e barrigas, derretendo-se em gargalhadas. Todos jovens de 18 anos. O pênis grande ou de tamanho razoável não deixa de fornecer maior confiança ao macho, mas ali não tinha disso. Eram apontados tanto à falta quanto o excesso. Tinham gozadores que quase quebravam o tronco de tanto gargalhar. 

Eu estava ali pensando em perder um ano de estudos, fazer uma coisa que nunca havia sonhado com ela e aguardando com ansiedade a volta da minha roupa. Sem remédio nenhum, relaxei e encarei o fato como um naturalista. Felizmente, diante de tantos, não fui apontado em nada, nem na vanguarda nem na retaguarda. O meu corpo dava para se apresentar bem e passou isento no rol das gozações. Mas ainda hoje, quando lembro o tal tenente farrista, comedor de cágados, lembro também da FILA DOS HOMENS NUS.


Autobiografia

CLERISVALDO B. CHAGAS – AUTOBIOGRAFIA
ROMANCISTA – CRONISTA – HISTORIADOR - POETA


Clerisvaldo Braga das Chagas nasceu no dia 2 de dezembro de 1946, à Rua Benedito Melo ( Rua Nova) s/n, em Santana do Ipanema, Alagoas. Logo cedo se mudou para a Rua do Sebo (depois Cleto Campelo) e atual Antonio Tavares, nº 238, onde passou toda a sua vida de solteiro. Filho do comerciante Manoel Celestino das Chagas e da professora Helena Braga das Chagas, foi o segundo de uma plêiade de mais nove irmãos (eram cinco homens e cinco mulheres). Clerisvaldo fez o Fundamental menor (antigo Primário), no Grupo Escolar Padre Francisco Correia e, o Fundamental maior (antigo Ginasial), no Ginásio Santana, encerrando essa fase em 1966.Prosseguindo seus estudos, Chagas mudou-se para Maceió onde estudou o Curso Médio, então, Científico, no Colégio Guido de Fontgalland, terminando os dois últimos anos no Colégio Moreira e Silva, ambos no Farol Concluído o Curso Médio, Clerisvaldo retornou a Santana do Ipanema e foi tentar a vida na capital paulista. Retornou novamente a sua terra onde foi pesquisador do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Casou em 30 de março de 1974 com a professora Irene Ferreira da Costa, tendo nascido dessa união, duas filhas: Clerine e Clerise. Chagas iniciou o curso de Geografia na Faculdade de Formação de Professores de Arapiraca e concluiu sua Licenciatura Plena na AESA - Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, em Pernambuco (1991). Fez Especialização em Geo-História pelo CESMAC – Centro de Estudos Superiores de Maceió (2003). Nesse período de estudos, além do IBGE, lecionou Ciências e Geografia no Ginásio Santana, Colégio Santo Tomaz de Aquino e Colégio Instituto Sagrada Família. Aprovado em 1º lugar em concurso público, deixou o IBGE e passou a lecionar no, então, Colégio Estadual Deraldo Campos (atual Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva). Clerisvaldo ainda voltou a ser aprovado também em mais dois concursos públicos em 1º e 2º lugares. Lecionou em várias escolas tendo a Geografia como base. Também ensinou História, Sociologia, Filosofia, Biologia, Arte e Ciências. Contribuiu com o seu saber em vários outros estabelecimentos de ensino, além dos mencionados acima como as escolas: Ormindo Barros, Lions, Aloísio Ernande Brandão, Helena Braga das Chagas, São Cristóvão e Ismael Fernandes de Oliveira. Na cidade de Ouro Branco lecionou na Escola Rui Palmeira — onde foi vice-diretor e membro fundador — e ainda na cidade de Olho d’Água das Flores, no Colégio Mestre e Rei. 

Sua vida social tem sido intensa e fecunda. Foi membro fundador do 4º  teatro de Santana (Teatro de Amadores Augusto Almeida); membro fundador de escolas em Santana, Carneiros, Dois Riachos e Ouro Branco. Foi cronista da Rádio Correio do Sertão (Crônica do Meio-Dia); Venerável por duas vezes da Loja Maçônica Amor à Verdade; 1º presidente regional do SINTEAL (antiga APAL), núcleo da região de Santana; membro fundador da ACALA - Academia Arapiraquense de Letras e Artes; criador do programa na Rádio Cidade: Santana, Terra da Gente; redator do diário Jornal do Sertão (encarte do Jornal de Alagoas); 1º diretor eleito da Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva; membro fundador da Academia Interiorana de Letras de Alagoas – ACILAL.

Em sua trajetória, Clerisvaldo Braga das Chagas, adotou o nome artístico Clerisvaldo B. Chagas, em homenagem ao escritor de Palmeira dos Índios, Alagoas, Luís B. Torres, o primeiro escritor a reconhecer o seu trabalho. Pela ordem, são obras do autor que se caracteriza como romancista: Ribeira do Panema (romance - 1977); Geografia de Santana do Ipanema (didático – 1978); Carnaval do Lobisomem (conto – 1979); Defunto Perfumado (romance – 1982); O Coice do Bode (humor maçônico – 1983); Floro Novais, Herói ou Bandido? (documentário romanceado – 1985); A Igrejinha das Tocaias (episódio histórico em versos – 1992); Sertão Brabo CD (10 poemas engraçados).


Até setembro de 2009, o autor tentava publicar as seguintes obras inéditas: Ipanema, um Rio Macho (paradidático);Deuses de Mandacaru (romance); Fazenda Lajeado(romance); O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema (história); Colibris do Camoxinga - poesia selvagem (poesia).

Atualmente (2009), o escritor romancista Clerisvaldo B. Chagas também escreve crônicas diariamente para o seu Blog no portal sertanejo Santana Oxente, onde estão detalhes biográficos e apresentações do seu trabalho.

(Clerisvaldo B. Chagas – Autobiografia)

http://clerisvaldobchagas.blogspot.com.br/2014/01/a-fila-dos-homens-nus.html


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