Por José Romero
Araújo Cardoso
Na História da Música Popular Nordestina há lugar de destaque para a abordagem
brilhante que Rosil de Assis Cavalcanti (Macaparana, 20 de
dezembro de 1915 – Campina Grande, 10 de julho de 1968) enfatizou no que se
refere ao drama representado pelas secas no Nordeste Brasileiro, através de
belíssima canção regional intitulada Aquarela Nordestina, composta em parceria
com Maria das Neves Coura Cavalcanti.
Em 1958, Marinês e sua gente gravaram Aquarela Nordestina, seguidos por outros
geniais intérpretes, a exemplo de Luiz Gonzaga, registrada em 1989, ano de sua
morte em dois de agosto e Elba Ramalho, que a gravou em 1981, entre outros
artistas de renome.
Disputado programa radiofônico transmitido pela Rádio Borborema de Campina
Grande, comandado pelo Capitão Zé Lagoa, Rosil Cavalcanti em pessoa, contava
com presença marcantes de artistas regionais, incluindo os precursores da
gravação de um dos mais cultivados hinos nordestinos.
A estiagem que calcina a terra é invocada para cantar a paisagem da região
supliciada pela ação intransigente do vento aliseo nordeste que, em consonância
com a participação orográfica representada pelo Planalto da Borborema, em cuja
vertente sudeste nasceu Rosil Cavalcanti, em Macaparana (PE), assinalam
indelevelmente marca efetiva no quadro natural do nordeste seco.
Aquarela Nordestina desperta ideia de pertencimento, destacando aspectos
bastante familiares ao nordestino vítima das secas, pois ao longo dos primeiros
versos descreve com invulgar perfeição a situação de aflição que atinge
inexorável da fauna dependente de água para sobreviver.
A fauna e a flora eram indissociáveis no cotidiano do povo dos outrora sertões
esquecidos, quase apêndice da própria existência, tendo em vista a relação
direta com costumes e tradições decantadas no legado musical deixado por Rosil
Cavalcanti. Hoje a situação difere radicalmente, tendo em vista o esvaziamento
do campo e a confirmação de uma nova realidade.
Em Aquarela Nordestina, a intensidade das secas é registrada em razão que áreas
não tão afetadas pela ação inclemente das estiagens são registradas, como o
Brejo, região que em Pernambuco assinalou o nascimento do célebre compositor,
bem como o agreste.
O destaque florístico contido na música de que acauã no alto do pau ferro canta
forte dimensiona a intensidade da calamidade cíclica, pois o nome vulgar
atribuído a essa espécie vegetal é usado para várias árvores da Família
Fabaceae, da mata atlântica latifoliada semidecídua, sendo encontrada em áreas
de transição, como a que onde Rosil Cavalcanti veio ao mundo.
A seca, em Aquarela Nordestina, não se restringe ao nordeste semiárido. Em
diversos momentos da História Nordestina, como nos anos de 1877 e 1879, há
registros de que a seca extrapolou seus limites geográficos e se espraiou por
espaços privilegiados, levando inconformismo e desespero, efetivando-se
flagelos às desvalidas populações interioranas da grande região
Nordeste.
Patrimônio valiosíssimo da cultura de um povo forte e altivo, Aquarela
Nordestina ultrapassa gerações e não perde seu valor em razão que eternas
pérolas perpetuar-se-ão desafiando as brumas do tempo e as imposições de
modelos falsos de conduta que não respeitam a grandiosidade de culturas
forjadas na autenticidade.
José Romero
Araújo Cardoso. Natural de Pombal (Estado da Paraíba). Nascido em 28 de
setembro de 1969. Escritor. Geógrafo. Professor-Adjunto IV do Departamento de
Geografia da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade do
Estado do Rio Grande do Norte. Especialista em Geografia e Gestão Territorial
(UFPB) e em Organização de Arquivos (UFPB). Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente (PRODEMA/UERN). Sócio da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço
(SBEC) e do Instituto Cultural do Oeste Potiguar (ICOP).
Envaido pelo professor, escritor e pesquisador do "Cangaço" José Romero de Araújo Cardoso
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